Friday, September 17, 2010

Entrevista (e Bootleg exclusivo): Noiserv

Noiserv é um dos mais interessantes projectos da música feita em Portugal. Recentemente lançou via Optimus Discos, o EP «A Day in the Days of The Days» que será oficialmente apresentado no próximo dia 25 de Setembro em Lisboa, na tenda do Chapitô. David Santos, o nome por detrás de "version quase invertido" tem vindo a consolidar-se aos poucos como um dos mais originais e completos músicos portugueses, apresentando-se sozinho em palco, mas criando um ambiente sonoro extremamente rico, através do recurso à loop station. David Santos esteve à conversa com o Eclectismo Musical e deu-se a conhecer melhor. Em paralelo, apadrinhou o projecto que o Blog lança hoje em exclusivo - um "bootleg" autorizado - do concerto que Noiserv deu no passado dia 5 de Julho, no Teatro A Barraca, em Lisboa. Assim, no final desta entrevista terão disponível o link para o download do Bootleg especial!

«Noiserv». O nome foi escolhido por ser tão complexo como o projecto? Como descreves o Noiserv e o David?
O nome foi uma consequência do acaso, tinha de decidir um novo para concorrer com uma demo a um concurso, inverti um dos nomes que tinha num papel, neste caso "version"...e ajustando uma letra resultou noiserv :)...hoje em dia acho que seria impossível ter outro nome para descrever o que faço...Noiserv acaba por ser a forma de o David, Eu,se transcrever para música, é um projecto de uma só pessoa, por isso acaba por ser a própria pessoa...com ilusões, sonhos, tristezas, felicidades, vontades e apatias...

Depois do EP "56010-92”, em 2005, como foi o processo criativo até chegares aos Optimus Discos e ao EP "A day in the day of the days"? 
Depois de em 2005 ter editado o "56010-92” muita coisa aconteceu, sendo a principal delas a edição do primeiro longa-duração "One Hundred Miles From thoughtlessness" em Novembro de 2008. Com este disco consegui perceber uma bocadinho melhor o que sou capaz de fazer e que caminho seguir, muitos concertos se seguiram e muitas coisas aprendi...a seguir veio este EP...
O processo criativo...é como um ser humano, temos de alimentá-lo até morrer, porque só aí termina...Acho que a base de tudo é a satisfação que as coisas nos possam dar...

Falavas do "One Hundred...", o álbum que te permitiu começar a ter o reconhecimento da crítica e do público, para quando está previsto um novo trabalho completo de originais? 
A minha ideia ao fazer este EP era precisamente ter algo conceptual que intercalasse dois discos longa duração...assim sendo o próximo passo será o segundo disco, em termos de datas e não querendo precipitar o tempo, julgo que o disco estará pronto em 2011!

A utilização da loop station foi uma definição conceptual que sempre idealizaste?
Não sou uma pessoa de grandes idealismos, as coisas acontecem como consequência de outras que já eram consequência de coisas anteriores. O uso da loop station acabou por ser consequência de eu ser apenas uma pessoa e achar interessante poder tocar mais que um instrumento, ao experimentar achei que podia resultar...

Antes do EP de 2005 já tinhas feito música?
Desde os 14/15 anos que fui tendo algumas bandas...embora considere que tudo começou para Noiserv com a gravação desse EP de 2005, acho que a vontade de fazer música começou muito antes...e foram as experiências que tive nesse "antes" que permitiram perceber o que queria fazer depois... 

Em Abril deste Ano participaste no «1st European Songwriter Workshop» na Áustria, como descreves a experiência? 
Foi uma experiência muito enriquecedora a todos os níveis...pessoal e musical...foi algo que espero vir a repetir um dia...em poucos palavras...foi uma das melhores semanas da minha vida...e resumindo foi passar 24h horas por dia com um conjunto de pessoas (25 pessoas) em que o único objectivo é partilhar com o outro o que tu és e exprimires-te através da musica...deixo aqui o diário que fiz na altura.
  

Como consideras ser o «estado d'arte» da música feita em Portugal?
Eu acho que a música em Portugal, feita por portugueses, está neste momento num dos melhores momentos desde que me conheço, não só por cada vez termos mais e boas bandas, mas porque acho que as mentalidades estão também a mudar um pouco, acho que cada vez mais valorizamos o que é feito por cá, e acho esse o aspecto mais importante para que possamos evoluir e acreditar no que fazemos...

A tua música apresenta uma Portugalidade onde a melancolia encontra o seu espaço muito marcado, ouvia-se muito Fado em casa dos teus pais?
Curiosamente nem o meu pai nem a minha mãe são grandes admiradores de fado, acho no entanto que de uma ou outra forma, e falando de música, a melancolia sempre teve presente na minha vida e na minha casa. Acho a melancolia uma das melhores coisas da vida pois é a triste saudade feliz de alguma coisa..:)

Vamos ser práticos: o Festival Alive onde tocaste no dia 10 de Julho apresentou nomes como Local Natives, The Drums, Girls, Hurts, etc, isto é, bandas que estão apenas a começar. Quanto é preciso investir para músicos portugueses (a criar em inglês) marcarem presença nos festivais internacionais? O problema é dinheiro para divulgação ou o que está a falhar?   
Realmente não sei o que é preciso para que isso aconteça, mas sei que esse é um dos pontos mais importantes que falta às bandas portuguesas para poderem aos poucos começar a afirmar-se lá fora, e com isso poderem também crescer e acreditar mais no seu valor...Acho que um dos grandes problemas é que no estrangeiro Portugal significa Fado e pouco mais e, assim sendo, pensarão os organizadores desses festivais que nada podem vir buscar a Portugal...acho que não nos podemos também esquecer que estamos na ponta da Europa e para chegarmos ao centro da mesma, onde tudo acontece, temos de passar por Espanha e França, dois Países muito fechados na sua própria cultura, ou seja se um alemão pega num carro e percorre parte da Europa, um português precisa de um avião para chegar à mesma zona...e isso ao longo dos anos acho que nos desliga e distancia de tudo o resto... 
 

O teu arranque foi potenciado pela inovadora netlabel Merzbau, agora a participação no Projecto Optimus Discos, o próximo passo é assinar por uma major?
O próximo passo não sei qual será, gostava de fazer um bom próximo disco, algo que me deixe orgulhoso e que sinta que fiz o meu melhor, a forma de o divulgar ou promover será apenas uma etapa mas nunca o fundamental desse objectivo...logo se vê...espero que corra bem...

Como é a vida profissional do David para além do Noiserv? 
Além de noiserv tenho uma licenciatura em Engenharia Electrotécnica e Computadores e é como Engenheiro que trabalho diariamente na faculdade num projecto de investigação na área da acústica de salas...
  

O David é mais Noiserv ou "You Can't Win, Charlie Brown"?
O David é o Noiserv e/ou vice-versa, ao ser um projecto de uma só pessoa é um género de auto-retrato, não uma personagem inventada ou criada, sou eu mesmo...Os "You Can't Win, Charlie Brown"é diferente é um grupo de 6 pessoas onde uma delas sou eu, é um trabalho de grupo... 

Que nomes colocavas no teu "festival ideal"?
hmm...contando com os vivos e com os não vivos, acho que seria algo como Radiohead | Sigur Rós | Explosions in the Sky | Múm | Bjork | Grizzly Bear | Jeff Buckley | Arcade Fire | Elliot Smith | Sunset Rubdown | DeVotchKa | Beirut | noiserv  (isto para os poder conhecer a todos :)).

O que achas dos novos veículos de comunicação, és um utilizador convicto? Que meios utilizas? 
Acho que a Internet veio revolucionar a forma de chegar às pessoas, não sou um utilizador convicto mas sou um utilizador consciente da importância dessas ferramentas e por isso mesmo tento estar actualizado e perceber a forma de as usar correctamente, embora nem sempre o consiga. Fazendo uma lista dos mais relevantes:
  

Uma última questão, tens planos/objectivos de carreira definidos? Se sim, quando perspectivas a tua carreira assusta-te o facto de poderes vir a ser um nome importante no panorama internacional e um perfeito desconhecido em terras lusas?
Não gosto muito de fazer planos e de traçar objectivos pois são o principio para a desilusão e para a frustração, no entanto acho que é o objectivo de qualquer pessoa que esteja envolvida em música poder um dia ser um nome importante e poder marcar um período ou geração...não me assusta o que dizes pois as coisas acontecem porque tem de ser e será como tiver de ser...apenas tenho de fazer o meu melhor em  tudo o que me envolva e exigir o meu esforço máximo nesta área que sempre foi o meu sonho, o resto acontecerá como tiver de acontecer...


E assim ficámos a conhecer um pouco mais de David Santos e do seu projecto Noiserv. Apadrinhado pelo próprio, surge a edição por parte do Eclectismo Musical de um bootleg (audio), depois da versão vídeo disponível no Youtube, do concerto dado pelo músico no Teatro a Barraca, em Lisboa. 



















 
Download disponível:

Aqui , Aqui ou Aqui!

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Eclectismo Musical: Entrevista (e Bootleg exclusivo): Noiserv

Entrevista (e Bootleg exclusivo): Noiserv

Noiserv é um dos mais interessantes projectos da música feita em Portugal. Recentemente lançou via Optimus Discos, o EP «A Day in the Days of The Days» que será oficialmente apresentado no próximo dia 25 de Setembro em Lisboa, na tenda do Chapitô. David Santos, o nome por detrás de "version quase invertido" tem vindo a consolidar-se aos poucos como um dos mais originais e completos músicos portugueses, apresentando-se sozinho em palco, mas criando um ambiente sonoro extremamente rico, através do recurso à loop station. David Santos esteve à conversa com o Eclectismo Musical e deu-se a conhecer melhor. Em paralelo, apadrinhou o projecto que o Blog lança hoje em exclusivo - um "bootleg" autorizado - do concerto que Noiserv deu no passado dia 5 de Julho, no Teatro A Barraca, em Lisboa. Assim, no final desta entrevista terão disponível o link para o download do Bootleg especial!

«Noiserv». O nome foi escolhido por ser tão complexo como o projecto? Como descreves o Noiserv e o David?
O nome foi uma consequência do acaso, tinha de decidir um novo para concorrer com uma demo a um concurso, inverti um dos nomes que tinha num papel, neste caso "version"...e ajustando uma letra resultou noiserv :)...hoje em dia acho que seria impossível ter outro nome para descrever o que faço...Noiserv acaba por ser a forma de o David, Eu,se transcrever para música, é um projecto de uma só pessoa, por isso acaba por ser a própria pessoa...com ilusões, sonhos, tristezas, felicidades, vontades e apatias...

Depois do EP "56010-92”, em 2005, como foi o processo criativo até chegares aos Optimus Discos e ao EP "A day in the day of the days"? 
Depois de em 2005 ter editado o "56010-92” muita coisa aconteceu, sendo a principal delas a edição do primeiro longa-duração "One Hundred Miles From thoughtlessness" em Novembro de 2008. Com este disco consegui perceber uma bocadinho melhor o que sou capaz de fazer e que caminho seguir, muitos concertos se seguiram e muitas coisas aprendi...a seguir veio este EP...
O processo criativo...é como um ser humano, temos de alimentá-lo até morrer, porque só aí termina...Acho que a base de tudo é a satisfação que as coisas nos possam dar...

Falavas do "One Hundred...", o álbum que te permitiu começar a ter o reconhecimento da crítica e do público, para quando está previsto um novo trabalho completo de originais? 
A minha ideia ao fazer este EP era precisamente ter algo conceptual que intercalasse dois discos longa duração...assim sendo o próximo passo será o segundo disco, em termos de datas e não querendo precipitar o tempo, julgo que o disco estará pronto em 2011!

A utilização da loop station foi uma definição conceptual que sempre idealizaste?
Não sou uma pessoa de grandes idealismos, as coisas acontecem como consequência de outras que já eram consequência de coisas anteriores. O uso da loop station acabou por ser consequência de eu ser apenas uma pessoa e achar interessante poder tocar mais que um instrumento, ao experimentar achei que podia resultar...

Antes do EP de 2005 já tinhas feito música?
Desde os 14/15 anos que fui tendo algumas bandas...embora considere que tudo começou para Noiserv com a gravação desse EP de 2005, acho que a vontade de fazer música começou muito antes...e foram as experiências que tive nesse "antes" que permitiram perceber o que queria fazer depois... 

Em Abril deste Ano participaste no «1st European Songwriter Workshop» na Áustria, como descreves a experiência? 
Foi uma experiência muito enriquecedora a todos os níveis...pessoal e musical...foi algo que espero vir a repetir um dia...em poucos palavras...foi uma das melhores semanas da minha vida...e resumindo foi passar 24h horas por dia com um conjunto de pessoas (25 pessoas) em que o único objectivo é partilhar com o outro o que tu és e exprimires-te através da musica...deixo aqui o diário que fiz na altura.
  

Como consideras ser o «estado d'arte» da música feita em Portugal?
Eu acho que a música em Portugal, feita por portugueses, está neste momento num dos melhores momentos desde que me conheço, não só por cada vez termos mais e boas bandas, mas porque acho que as mentalidades estão também a mudar um pouco, acho que cada vez mais valorizamos o que é feito por cá, e acho esse o aspecto mais importante para que possamos evoluir e acreditar no que fazemos...

A tua música apresenta uma Portugalidade onde a melancolia encontra o seu espaço muito marcado, ouvia-se muito Fado em casa dos teus pais?
Curiosamente nem o meu pai nem a minha mãe são grandes admiradores de fado, acho no entanto que de uma ou outra forma, e falando de música, a melancolia sempre teve presente na minha vida e na minha casa. Acho a melancolia uma das melhores coisas da vida pois é a triste saudade feliz de alguma coisa..:)

Vamos ser práticos: o Festival Alive onde tocaste no dia 10 de Julho apresentou nomes como Local Natives, The Drums, Girls, Hurts, etc, isto é, bandas que estão apenas a começar. Quanto é preciso investir para músicos portugueses (a criar em inglês) marcarem presença nos festivais internacionais? O problema é dinheiro para divulgação ou o que está a falhar?   
Realmente não sei o que é preciso para que isso aconteça, mas sei que esse é um dos pontos mais importantes que falta às bandas portuguesas para poderem aos poucos começar a afirmar-se lá fora, e com isso poderem também crescer e acreditar mais no seu valor...Acho que um dos grandes problemas é que no estrangeiro Portugal significa Fado e pouco mais e, assim sendo, pensarão os organizadores desses festivais que nada podem vir buscar a Portugal...acho que não nos podemos também esquecer que estamos na ponta da Europa e para chegarmos ao centro da mesma, onde tudo acontece, temos de passar por Espanha e França, dois Países muito fechados na sua própria cultura, ou seja se um alemão pega num carro e percorre parte da Europa, um português precisa de um avião para chegar à mesma zona...e isso ao longo dos anos acho que nos desliga e distancia de tudo o resto... 
 

O teu arranque foi potenciado pela inovadora netlabel Merzbau, agora a participação no Projecto Optimus Discos, o próximo passo é assinar por uma major?
O próximo passo não sei qual será, gostava de fazer um bom próximo disco, algo que me deixe orgulhoso e que sinta que fiz o meu melhor, a forma de o divulgar ou promover será apenas uma etapa mas nunca o fundamental desse objectivo...logo se vê...espero que corra bem...

Como é a vida profissional do David para além do Noiserv? 
Além de noiserv tenho uma licenciatura em Engenharia Electrotécnica e Computadores e é como Engenheiro que trabalho diariamente na faculdade num projecto de investigação na área da acústica de salas...
  

O David é mais Noiserv ou "You Can't Win, Charlie Brown"?
O David é o Noiserv e/ou vice-versa, ao ser um projecto de uma só pessoa é um género de auto-retrato, não uma personagem inventada ou criada, sou eu mesmo...Os "You Can't Win, Charlie Brown"é diferente é um grupo de 6 pessoas onde uma delas sou eu, é um trabalho de grupo... 

Que nomes colocavas no teu "festival ideal"?
hmm...contando com os vivos e com os não vivos, acho que seria algo como Radiohead | Sigur Rós | Explosions in the Sky | Múm | Bjork | Grizzly Bear | Jeff Buckley | Arcade Fire | Elliot Smith | Sunset Rubdown | DeVotchKa | Beirut | noiserv  (isto para os poder conhecer a todos :)).

O que achas dos novos veículos de comunicação, és um utilizador convicto? Que meios utilizas? 
Acho que a Internet veio revolucionar a forma de chegar às pessoas, não sou um utilizador convicto mas sou um utilizador consciente da importância dessas ferramentas e por isso mesmo tento estar actualizado e perceber a forma de as usar correctamente, embora nem sempre o consiga. Fazendo uma lista dos mais relevantes:
myspace
youtube
twitter
Facebook
  

Uma última questão, tens planos/objectivos de carreira definidos? Se sim, quando perspectivas a tua carreira assusta-te o facto de poderes vir a ser um nome importante no panorama internacional e um perfeito desconhecido em terras lusas?
Não gosto muito de fazer planos e de traçar objectivos pois são o principio para a desilusão e para a frustração, no entanto acho que é o objectivo de qualquer pessoa que esteja envolvida em música poder um dia ser um nome importante e poder marcar um período ou geração...não me assusta o que dizes pois as coisas acontecem porque tem de ser e será como tiver de ser...apenas tenho de fazer o meu melhor em  tudo o que me envolva e exigir o meu esforço máximo nesta área que sempre foi o meu sonho, o resto acontecerá como tiver de acontecer...


E assim ficámos a conhecer um pouco mais de David Santos e do seu projecto Noiserv. Apadrinhado pelo próprio, surge a edição por parte do Eclectismo Musical de um bootleg (audio), depois da versão vídeo disponível no Youtube, do concerto dado pelo músico no Teatro a Barraca, em Lisboa. 



















 
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